segunda-feira, 5 de março de 2012

Como ler e compreender a Bíblia

Novas estratégias de interpretação das Escrituras podem aprofundar a vida do fiel com Cristo. Por ser um livro extenso, mesmo os leitores mais cuidadosos podem interpretá-la de muitas maneiras.
Por J. Todd Billings




Muitas vozes têm se levantado – e com razão – para dizer que uma crise de interpretação bíblica está em curso. Embora a Bíblia Sagrada seja o livro de maior circulação no mundo e os cristãos, estimados em mais de 2,3 bilhões de pessoas, sejam o maior grupo religioso do planeta, é preciso salientar que tal crise não envolve exatamente o declínio do número de leitores que reconhecem a autoridade das Sagradas Escrituras como Palavra de Deus. O problema é de outra natureza, bem mais sutil – e preocupante. Acontece que muitos que leem e interpretam o livro sagrado da fé instituída por Jesus não o fazem, necessariamente, do ponto de vista cristão.
Em tempos de pragmatismo exacerbado em praticamente todas as áreas de atividade humana e de uma crescente importância ao chamado bem estar do indivíduo, mais e mais pessoas têm enxergado a Bíblia como uma espécie de panaceia para todos os males e angústias. Textos e princípios da Palavra de Deus são empregados ao arrepio da boa hermenêutica, no objetivo de estimular, e até mesmo justificar, mesmo as práticas mais mesquinhas. Livros, pregações e palestras de cunho cristão prometem soluções bíblicas para se ter sucesso nas finanças, boa saúde, relacionamentos amorosos bem sucedidos – vitória, enfim, em todas as áreas. Assim, cada crente é incentivado a ver aplicações práticas de sua fé em vários aspectos da vida, com se a Bíblia fosse um “livro-resposta” para toda a sorte de necessidades e problemas.
Entretanto, esse tipo de mensagem, centrada no indivíduo e em suas preferências, carece de uma interpretação da Bíblia como um livro que questiona as necessidades essenciais do ser humano ou que aponta para muito além delas. E não são apenas os escritores e preletores bem-intencionados que falham em oferecer uma abordagem bíblica realmente cristã. Vários estudiosos interpretam as Escrituras como parte da História antiga, utilizando-a somente como mais um elemento para responder a questões arqueológicas e sociológicas sobre a Antiguidade. Outros tentam reconstruir o pensamento de um livro ou de um autor específico à luz da modernidade. Há quem seja capaz de escrever profundos ensaios sobre a teologia de Paulo sem considerar, em momento algum, que Deus esteja falando às pessoas de seu tempo por meio dos textos antigos do apóstolo – sem falar naqueles que procuram fazer uma correlação entre o contexto histórico de uma passagem com o mundo atual, mas, inadvertidamente, sugerem que muitos cristãos não são capazes de entender a Palavra de Deus por não terem a necessária formação acadêmica.
Em parte, devido a inadequações tanto na leitura popular quanto acadêmica da Bíblia, um número crescente de estudiosos passou a defender o que chamam de “interpretação teológica das Escrituras”. Eles incentivam uma leitura do texto bíblico como instrumento de autorrevelação divina e de salvação do homem por meio de Jesus, enredo central de toda a narrativa do Antigo e do Novo Testamento. Esta escola de interpretação inclui uma grande variedade de práticas, mas todas elas visam a promover o conhecimento do Deus Trino e o discipulado cristão por meio das Escrituras.
Quando se examina a interpretação bíblica, é preciso prestar atenção à chamada teologia funcional, ou seja, o fato de que a maneira como se usa a Bíblia reflete as convicções que se têm a respeito dela. Existem, basicamente, duas abordagens comuns para a utilização das Escrituras. Alguns leitores se voltam para a Bíblia como se tivessem em mãos o projeto de construção de um prédio. Em seguida, passam a tentar encaixar passagens isoladas como se fossem os tijolos. Tal prática parte do princípio de que já se sabe o sentido maior das Escrituras – portanto, a tarefa de interpretação bíblica se torna uma questão apenas de descobrir onde determinada passagem se encaixa no sistema teológico defendido por cada um.
Outros preferem uma abordagem do tipo self-service. Nesta ótica, muito empregada hoje em dia, a Palavra de Deus é como um enorme buffet de comida a quilo – cada um escolhe o que vai consumir à vontade, de acordo com suas preferências teológicas e interesses. Em ambas os casos, tanto o do projeto de construção quanto o do self-service, as Escrituras são usadas no sentido de atender a um propósito pessoal. Quem está no controle é o usuário; ele pode até reconhecer a autoridade bíblica, desde que ela confirme suas ideias preconcebidas ou o abasteça com conselhos divinos acerca de suas necessidades. Os leitores que trazem consigo seu próprio projeto pré-concebido acreditam que não se pode ler as Sagradas Escrituras sem trazer à tona algum entendimento. Já os do tipo self-service acreditam que a Bíblia é um livro pelo qual Deus fala diretamente com eles.
“REGRA DE FÉ”
Uma leitura teológica das Escrituras faz uso das duas suposições, embora de uma forma muito mais profunda e completa. É como se, em vez de fornecer ao leitor um projeto detalhado, a análise teológica da Bíblia trouxesse uma espécie de mapa de viagem. Tal mapa, entretanto, não nos oferece todas as respostas sobre qualquer texto em particular. Em vez disso, a leitura é o começo de uma jornada na qual Deus, através de sua Palavra, vai ao encontro do indivíduo repetidas vezes, trazendo reconfortantes sinais de sua presença e surpresas que podem até confundir, mas também descortinam novas perspectivas. A leitura bíblica, portanto, não tem a ver com a montagem de um quebra-cabeças, mas com a resolução de um mistério. Através das Escrituras, encontramos nada menos que o misterioso Deus Trino, em pessoa.
Os primeiros cristãos também ensinavam que os seguidores de Jesus deveriam aproximar-se das Escrituras com uma espécie de mapa teológico básico em mãos. Por volta do segundo século, Irineu falou sobre a “regra de fé”, como forma de entender os princípios básicos com os quais os crentes ortodoxos (em oposição aos gnósticos) deveriam aproximar-se da Palavra de Deus. Essa regra de fé não foi criação de algum estudioso em particular, mas provinha do Evangelho e da identidade cristã, fundamentada no batismo: quem lia as Escrituras o fazia como seguidor de Jesus, batizado em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Assim, os primeiros credos batismais, ou declarações de fé, tinham um caráter trinitário – como o Credo Apostólico, por exemplo – e forneceram o conteúdo básico da regra de fé.
Mas por que isso foi e é necessário? A Bíblia é um livro extenso, e mesmo os leitores mais cuidadosos podem interpretá-la de muitas e diferentes maneiras. Contudo, nem todas essas formas de interpretação são, de fato, cristãs, na plena acepção da palavra. Por exemplo, uma pessoa pode ler a Bíblia de modo que veja o Deus de Israel apenas como um juiz, ou seja, uma antítese do Pai gracioso apresentado nos evangelhos. Mas esta não é a leitura cristã nem do Antigo nem do Novo Testamento. Nos primeiros séculos do cristianismo, a regra de fé ajudou a assegurar que os cristãos mantivessem a conexão entre as duas partes das Escrituras, uma visão ampla na qual o Deus da Criação e da Aliança, revelado aos patriarcas e à nação de Israel, é também o Deus revelado em Jesus Cristo.
A regra de fé, baseada na crença no Deus Trino, tem sido um elemento crítico para a leitura da Bíblia desde a Igreja Primitiva, passando pela Idade Média e pela Reforma Protestante. Os reformadores enfatizaram que a Escritura (e não a tradição da Igreja) era a única e definitiva regra de fé. Lutero, Calvino e outros confirmaram isso, de forma clara e entusiástica, ao defender uma abordagem das Escrituras com base na Trindade. Ao interpretar o Velho Testamento assim como o Novo, os reformadores buscavam ler as Escrituras à luz de Cristo, como o cumprimento das promessas de Deus na Criação e na Aliança, aplicando esse princípio à Igreja e aos discípulos de Jesus. Segundo muitos estudiosos contemporâneos, essa regra de fé trinitária básica estabelece as bases apropriadas para a interpretação da Bíblia como o livro-texto do cristianismo.
A regra de fé, neste sentido, é o que nos dá a percepção do que é central e do que é periférico em termos de interpretação bíblica. Ele não define com antecedência o significado de determinadas passagens; em vez disso, fornece ao leitor uma melhor percepção da esfera em que se dá a jornada da leitura da Bíblia, forjando um caminho para uma comunhão mais profunda com o divino. O novo mundo em que Deus nos coloca por meio das Escrituras é vasto e amplo, mas também tem um caráter específico. É uma jornada pelo caminho de Jesus Cristo, pelo poder do Espírito, uma antecipação do clímax da comunhão final com o Deus Trino.
Mas e a questão da necessidade de conhecimento especializado para a correta interpretação teológica das Escrituras? Ao mesmo tempo que alguns adeptos do movimento da interpretação teológica nos encorajam a um envolvimento maior com comentaristas pré-modernos e com a moderna crítica bíblica, eles também têm grande confiança na capacidade das congregações comuns de se aproximarem das Escrituras como sendo a Palavra de Deus. Duas dinâmicas são, muitas vezes, ignoradas nas interpretações bíblicas contemporâneas, especialmente, aquelas baseadas em suposições histórico-críticas. A primeira é a obra do Espírito de trazer luz à Escritura; a segunda, a interpretação bíblica “em Cristo”.
Congregações cristãs em todo o mundo cultivam uma percepção dessas duas realidades quando oram pela iluminação do Espírito, quando adoram a Deus ou quando aplicam as Escrituras na vida da comunidade em forma de discipulado e testemunho. É claro que essas práticas não são garantia de uma hermenêutica fiel, porém são dinâmicas indispensáveis para interpretar a Bíblia como, de fato, Escritura Sagrada. Isso porque a presença do Espírito em uma comunidade cristã, estabelecida em Jesus, tem a capacidade única de equipar esse grupo para interpretar a Bíblia como Palavra de Deus.
IDENTIDADE EM CRISTO
Acontece que aproximar-se da Bíblia com tais pressupostos teológicos é considerado anátema para muitos teólogos da atualidade. Eles supõem que as convicções teológicas opõem-se à fiel interpretação bíblica, ao invés de ser sua potencial aliada. Há uma preocupação genuína por trás dessa objeção: a de que a teologia deve ser extraída da Bíblia, e não imposta ao texto escriturístico. Aqueles que fazem esse tipo de objeção, normalmente, partem do pressuposto de que não somos capazes de ser imparciais em nossa interpretação, mas sim, que a Bíblia é que deve dar uma espécie de suporte a nossas conjecturas teológicas.
Embora seja correto procurar extrair da Bíblia a nossa teologia (e não o contrário), outros estudiosos observam que as convicções teológicas e as práticas religiosas, como a adoração, tornam a leitura bíblica mais frutífera. Como afirma R.R. Reno, no seu prefácio ao Comentário Brazos, a doutrina teológica “é um aspecto crucial da pegagogia divina, um agente de esclarecimento para nossas mentes turvadas pelos enganos”. Naturalmente, uma leitura teológica da Escritura pode conter também armadilhas. Mas a solução, definitivamente, não é deixar o estudo da Bíblia somente para os especialistas acadêmicos. Pelo contrário – é recuperar a perspectiva do lugar das Escrituras em meio à obra de redenção divina e abraçar a tarefa de ler o texto bíblico com abertura suficiente para que Deus possa reformar e remodelar nossa caminhada. Assim, faremos morrer o velho homem e dar espaço a uma nova identidade em Cristo.
Devemos também evitar o outro extremo: interpretar a Bíblia sozinhos, sem qualquer ajuda. Em nossos dias, muitos acreditam que o indivíduo pode ser um intérprete “todo-poderoso” do texto sagrado – não haveria necessidade de consultar o que dizem os comentaristas nem tampouco estar integrado a uma comunidade de fé. Apenas o indivíduo, a Bíblia e o Espírito Santo bastariam. Embora, por vezes, o dito reformado Sola Scriptura seja usado para justificar tal procedimento, ele é, na verdade, uma grave distorção desse princípio protestante. Os principais exegetas da Reforma consultaram o que outros escreveram através dos tempos, bem como aprimoraram seus conhecimentos das línguas bíblicas e se aperfeiçoaram em outras habilidades necessárias à correta hermenêutica.
O movimento da interpretação teológica das Escrituras busca reunir o que a modernidade dividiu: o discipulado e o estudo bíblico crítico. Agostinho, em sua obra intitulada Sobre o ensino cristão, afirma que Jesus Cristo, como o Deus-humano encarnado, é a “estrada” para nossa pátria celestial. Assim, toda interpretação da Escritura deve ser necessariamente feita à luz de Jesus Cristo – e conduzir ao nosso crescimento no amor a Deus e ao próximo. Paralelamente, Agostinho destaca que ter conhecimento do grego e do hebraico é muito importante para a interpretação das Escrituras. Em pleno século 5, Le já dizia que a leitura bíblica agrupa as disciplinas da história, da retórica, da lógica e do que modernamente chamaríamos de antropologia cultural.
Assim como Agostinho, o movimento da interpretação teológica tem buscado aproximar o discipulado cristão do estudo acadêmico das Escrituras. Desta maneira, mesmo narrativas extremamente ligadas ao contexto cultural e religioso no qual foram escritas ganham novos contornos. As passagens dos evangelhos que se referem aos fariseus, por exemplo. À primeira vista, as repreensões de Jesus àquele grupo não dizem respeito ao leitor moderno. Mas o estudo histórico tem mostrado que os fariseus não eram apenas legalistas estereotipados – eles buscavam de fato uma renovação na obediência à Lei da Aliança, a partir das promessas de Deus para Israel. É verdade que pensavam diferente de Jesus e dos primeiros cristãos, mas também é certo que havia aspectos comuns entre eles.
Assim, quando pensamos estar livres de quaisquer implicações das duras palavras de Jesus aos fariseus, o raciocínio em perspectiva histórica nos ajuda a, mais uma vez, a aplicar em nossas vidas a mensagem (sempre tão pungente) da Palavra de Deus. Em termos mais gerais, pode-se dizer que o estudo crítico ajuda os leitores a evitarem erros que atrapalhem uma leitura bíblica frutífera. Tais equívocos podem ser mal-entendidos quanto aos tipos bíblicos ou equívocos de interpretação de natureza linguística ou cultural. Daí a importância do conhecimento das línguas originais e de crítica textual. Embora tais elementos não sejam imprescindíveis à apropriação dos conteúdos espirituais da Palavra de Deus, eles fornecem caminhos seguros para uma hermenêutica mais fundamentada. Como Agostinho sugeriu, vários métodos interpretativos são válidos. Entretanto, eles precisam conduzir a uma compreensão da Bíblia como a poderosa Palavra de Deus e a um entendimento da Igreja como uma comunidade de discípulos, que cresce à imagem de Cristo.
VIVER PELA PALAVRA
Uma característica fundamental de muitos trabalhos na área da interpretação teológica tem sido o renascimento de formas de interpretação bíblica essencialmente simbólica. Sob esse ponto de vista, o Antigo Testamento não tem apenas um sentido histórico – como querem muitas correntes –, mas também espiritual, que se estende a Jesus e à sua Igreja nos dias de hoje, na forma de alegorias ou tipologias essenciais à vida cristã. Ao longo dos últimos dois mil anos de cristianismo, raramente os exegetas deixaram a figura de Jesus fora de sua leitura do Antigo Testamento. Assim, a narrativa da primeira parte da Bíblia Sagrada continuou a ter integridade, mesmo quando significados “espirituais” referentes a Cristo foram sobrepostos a ela.
Esta abordagem do Velho Testamento está baseada no próprio Novo Testamento, que nos dá bons exemplos dela. Para os escritores neotestamentários, não é apenas um salmo ou profecia messiânica ocasional que se aplica a Cristo – eles leem todas as Escrituras de Israel sob a perspectiva do advento e da obra salvadora do Filho de Deus. Por exemplo, o livro de Hebreus começa com sete citações de textos do Antigo Testamento a partir de diversos contextos (Salmos, Deuteronômio e II Samuel); no entanto, é inegável que todas elas se aplicam a Cristo. Isso não se deve à hermenêutica particular do autor da epístola, mas a seu entendimento de quem é Cristo no plano de salvação de Deus: “Há muito tempo Deus falou muitas vezes e de várias maneiras aos nossos antepassados por meio dos profetas, mas nestes últimos dias falou-nos por meio do Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas e por meio de quem fez o universo. O Filho é o resplendor da glória de Deus e a expressão exata do seu ser” (Hebreus 1.1-3, na Nova Versão Internacional).
O Filho foi o cumprimento de diferentes passagens do Antigo Testamento. Embora, nas palavras do escritor, ele não tenha sido reconhecido como verdadeiro Messias em seus dias, o Filho é o Criador e também é o “herdeiro de todas as coisas” – e, em Jesus Cristo, deu-se a conhecer na história humana. Isso significa que uma leitura espiritual do Antigo Testamento não pode aniquilar a sua narrativa em si. Quando o Jesus ressurreto abriu o entendimento de seus companheiros no caminho de Emaús “para entender as Escrituras”, ele não disse que a lei de Moisés, os escritos dos profetas e os Salmos tinham sido descartados, mas sim, que estavam se cumprindo nele (Lucas 24.44-45).
Como observa John Webster, teólogo da Universidade de Aberdeen, na Escócia, e um dos maiores defensores da interpretação teológica, a “leitura das Escrituras é um episódio na história do pecado e de sua superação; e vencer o pecado é a obra única obra de Cristo e do Espírito”. Assim, de acordo com esse raciocínio, a leitura bíblica está inevitavelmente ligado à regeneração. Como tal, lemos a Bíblia esperando receber uma palavra divina – tanto de conforto, quanto de confronto. A Palavra de Deus nos renova, ao mesmo tempo em que confronta nossos ídolos pessoais e culturais, traz luz ao nosso caminho e nos equipa para nosso serviço neste mundo.
Assim, ver a Bíblia como a Palavra de Deus envolve deleitar-se nela, memorizá-la e viver por ela. Quando Jesus foi tentado por Satanás, respondeu com passagens bíblicas que tinha na memória. Paulo, em sua Epístola aos Colossenses, adverte os crentes a deixarem a palavra de Cristo “habitar” abundantemente em si. Já o evangelho de João mostra a dinâmica trinitária do viver pela palavra do Filho de Deus, quando diz que o Espírito, enviado aos crentes, glorificará Cristo. Deleitar-se e viver pela Palavra de Deus é algo extremamente prático e tem a ver com nossas finanças, família e até mesmo nossos corpos. No entanto, não se deve entrar por tal caminho em busca de sucesso neste mundo, mas, sim, da mortificação de nossa velha criatura e para a nova vida realizada pelo Espírito Santo.
Desta forma, podemos ler a Bíblia confiantemente, sabendo que Deus age de forma poderosa através de sua Palavra, por meio da adoração comunitária, em meio à oração, à memorização, ao ensino e ao testemunho. Não temos, necessariamente, que dominar plenamente a Bíblia para, então, torná-la relevante em nossas vidas. Pelo contrário: através das Escrituras, o Senhor nos abre um novo lugar de habitação – um local de comunhão com Cristo em um caminho que conduz ao amor a Deus e ao próximo.
Nossa jornada rumo à santificação não termina nesta vida; assim, também, não é neste mundo que finda nossa jornada de meditação nas Escrituras. Lutamos contra elas, muitas vezes, quando nos diz o que não queremos ouvir. Mas elas também confirmam e edificam nossa nova identidade em Cristo. Em tudo isso, o valor da Palavra de Deus é inesgotável, porque o Espírito usa a Escritura para testificar de Cristo, que é o Verbo enviado pelo Pai. Quando lemos a Bíblia como Escritura divinamente inspirada, não somos os dominadores, mas os dominados – e, por meio dela, recebemos do Deus Trino o seu fôlego de vida. (Tradução: Élidi Miranda)
J. Todd Billings é professor de teologia reformada do Seminário Teológico Ocidental em Holland, Michiga (EUA)

Texto retirado da revista Cristianismo Hoje.

domingo, 4 de março de 2012

O que é o evangelho? | Voltemos Ao Evangelho

O que é o evangelho? Voltemos Ao Evangelho

Notícias! Notícias! Notícias!

Freqüentemente, precisamos meditar no fato de que o cristianismo é notícias. É notícias, e não apenas idéias ou argumentos. O cristianismo também possui essas características, mas ele é, antes de tudo, notícias poderosas e cheias de júbilo. “Não temais; eis aqui vos trago boa-nova de grande alegria, que o será para todo o povo” (Lucas 2.10).
Qual é a notícia? É esta: embora o pecado tenha grande poder, seja universal e cause a morte (Romanos 3.23; 6.23), Jesus, o Filho de Deus, veio ao mundo para salvar pecadores (1 Timóteo 1.15). Ele nos livra da condenação eterna (Mateus 25.46). Cristo morreu por nossos pecados (1 Coríntios 15.3). Aquele que não conheceu pecado, Deus o fez pecado por nós, para que, nEle, nos tornássemos os justos de Deus (2 Coríntios 5.21). Somos justificados por meio do sangue de Cristo e reconciliados com Deus (Romanos 5.9-10). Não há condenação para aqueles que estão em Cristo Jesus (Romanos 8.1). O justo morreu pelos injustos, para trazer-nos à comunhão com Deus (1 Pedro 3.18). Este Jesus, Senhor do universo, foi ressuscitado, indestrutivelmente, de entre os mortos e não pode morrer ou ser vencido (Romanos 6.9; Hebreus 7.16). A maneira de sermos salvos por intermédio dEle não são as obras meritórias, e sim a fé no Deus que justifica os ímpios (Romanos 4.5; Efésios 2.8-9). Nenhum ser humano jamais imaginou a grandeza do que Deus tem preparado para aqueles que O amam (1 Coríntios 2.9).
É admirável o fato de que esta mensagem — esta notícia — se propagou triunfantemente pelo mundo romano naqueles primeiros dias da igreja, mesmo num contexto de paganismo, pluralismo, ocultismo e perseguição (dias semelhantes aos nossos)? As notícias eram boas demais para serem retidas. E toda a história exclama: “Quão formosos são os pés dos que anunciam coisas boas!” (Romanos 10.15).

John Piper